quinta-feira, 12 de abril de 2012

De sambista a comediante; Mussum e Os Originais do Samba


                 


                Formado por ritmistas de escolas de samba do Rio de Janeiro, Os Originais do Samba era o que podemos chamar, um “precursor do pagode”. Pagode no sentido original da expressão; aquele típico samba descontraído e descompromissado de boteco. Após uma turnê no México, se fixaram em São Paulo, onde ficaram de vez. Dividindo palco com grandes ilustres da música brasileira, de Elis Regina (Lapinha; música de Baden Powell e Paulo. C. Pinheiro), a Jorge Bem (Cadê Tereza), os Originais tinham a irreverência e o humor como marca. E quanto a esse humor, um de seus integrantes, Antônio Carlos Bernardes Gomes, acabaria mais famoso, não  como músico, mas como humorista. Me refiro ao eterno Mussum!
            A naturalidade de Mussum para o humor já era evidente nos Originais do samba. Embora nas performances musicais sua participação não fosse muito expressiva, seu carisma cativava o público. Nas entrevistas era ele quem tomava a frente, contando a história do grupo, casos curiosos, composições, sempre com uma piada na ponta da língua. Em 1969, é convidado para participar como integrante dos Trapalhões, quando Wilton Franco o convida após assistir um espetáculo dos Originais.
            Por coincidência  , Mussum já havia participado por uma temporada em um programa humorístico chamado Bairro Feliz, de onde surgiu seu apelido, presenteado pelo próprio Grande Otelo, relativo a um peixe, (escorregadio e liso, já que conseguia facilmente sair de situações estranhas). Nos Trapalhões, Mussum  fazia papel dele mesmo. Ou melhor! Uma sátira dele mesmo! Um “beriteiro”, “negão”, “malandro”... suas piadas geralmente era ligada a sua condição de negro, ou sobre bebida. Era o politicamente incorreto. Algo difícil de ver na TV hoje em dia.
            Os Originais do samba continuaram (e continuam) sua carreira repleta de composições próprias e regravações de grandes canções da música brasileira. Em 1997, o grupo completou 30 anos de carreira e comemorou lançando um CD pela gravadora RGE, Os Originais de todos os sambas, contando com uma nova formação. Depois de muitos integrarem o grupo, atualmente é formado por Bigode do Pandeiro(pandeiro e voz) Junir (reco-reco e voz) Kiko (agogô, tantam e voz) Scooby ( cavaco e banjo) e Rogério Santos (violão e guitarra). 
 
 
 
 Apresentação e entrevista do Originais do Samba na TV Cultura; 
o carisma de Mussum
 

O grande clássico do grupo


                 Wikipédia/ Os Originais do Samba
                 Wikipédia/ Mussum
 
 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Quadrafônico, o “baião psicodélico” de Alceu Valença e Geraldo Azevedo

Imagina um bar com música ao vivo em plena Recife no final dos anos 60. Um homem de cabelos longos e voz serena toca seu violão para o público, mostrando algumas de suas composições. Alguns descompromissados apenas bebem com seus amigos, destraídos com a música. Outros ficam no bar, pela música. Querendo sentir algo diferênte do que uma vitrola pode oferecer. Mas entre eles, existe uma pessoa especial. Um músico, também de cabelos longos, que assiste ao show até o final, como quem assiste a uma aula. Este é Alceu Valença, no momento em que conhece Geraldo Azevedo; aquele músico de voz suave tocando no bar. Esse encontro selaria uma amizade que gerou o album “Quadrafônico”. Esse disco foi o trabalho que norteou a carreira desses dois grandes músicos brasileiros.
           
           


 Gravado em 1972, Quadrafônico foi a primeira parceria de Alceu Valença e Geraldo Azevedo. O carater totalmente experimental transita pelo rock, passando pela musicalidade nordestina, mas sem perder a sutileza sonora. A primeira faixa (me dá um beijo), por exemplo, tem uma levada meio jazz, com uma sutileza de “nordeste” no desenrolar da música. Na música Virgem Virginia, um belo arpejo de violão inicia a música, seguido da voz suave de Azevedo. Mster Mistério mostra o lado mais psicodélico do disco. “Novena” tem uma levada de baião, com um belo coro feminino que lembra uma “reza”. “Planetário” – uma das músicas mais loucas que já escutei – em rítmo frenético, revela a voz “escandaloza” de Alceu. “Cordão do Rio Preto” vai da ciranda ao frevo, lembrando os carnavais pernambucano. Todas as músicas oferece um toque experimental com todos os recursos musicais que o nordeste e o mundo oferece. É raiz e cosmopolita! Uma obra genuína!

Para compreender mais a riqueza dessa obra, só escutando mesmo...